A triste vida dos garis

Centenas de garis e varredores de rua trabalham durante oito horas por dia na Luziânia tradicional e no Distrito do Jardim do Ingá. Até 2012 os salários variavam de R$ 1.100 a R$1.350. Hoje a realidade é outra. Nossa reportagem foi às ruas conversar com essa classe humilde e abandonada de servidor público. Apesar da gana e da disposição da grande maioria, o clima entre eles reserva uma ponta de amargura. “Não estou por aqui por que quero. Ninguém é lixeiro por vontade própria. Se fosse para escolher, estaria numa sala com ar condicionado”. 

A declaração é de uma jovem mulher que limpa as ruas do centro de Luziânia. Como os demais que entrevistamos, ela pediu que seu nome não fosse divulgado. Ela está na prefeitura há sete anos. Como instrumento de trabalho, apenas uma surrada vassoura, uma pá para juntar o lixo e um carrinho de dois pneus. Acima disso só a força de vontade. “Até dezembro do ano passado eu tinha um salário de mais de um mil e trezentos reais, agora caiu para pouco mais de um mil e cem reais”. 

Perguntada por quê, ela respondeu que não sabe, mas declarou que perdeu grande parte da insalubridade. A insalubridade (completa) é garantida em lei para quem trabalha em locais de risco. Além de tudo, no momento em que conversávamos com ela, a servidora trabalhava sem luvas, uniforme e botas, acessórios também obrigatórios. A gari não quis dizer se é casada, se tem filhos e muito menos onde mora. 

Entramos em contato com uma pessoa mais graduada do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Ela também pediu para não ser identificada. “Os uniformes estão sendo licitados e logo chegarão. A questão salarial não é comigo”. 

DESABAFO – No centro da cidade encontramos mais uma equipe do SLU trabalhando. Eles também tiveram redução salarial. E também trabalham sem equipamento de segurança. “Já reclamamos, mas não adianta. Além de a gente estar ganhando menos não contamos com a menor segurança. A lei diz que devemos trabalhar com equipamento completo, até de máscara, mas isto não acontece”, disse meio desconfiado um servidor de meia idade.

GARIS - A situação dos garis é mais delicada em comparação aos varredores de rua. Eles têm jornada de oito horas por dia com uma folga semanal. O salário é equiparado, mas o trabalho é mais pesado. E mais indigesto. João (nome fictício), contou que seus colegas já encontraram animais mortos, fetos e todo tipo de sujeira nos contêineres. “Já acharam até uma cabeça humana”. 

Os garis não contam também com uniformes. A roupa que usam é comprada com recursos próprios. O calçado também. A prefeitura fornece as luvas. “Quando a gente recebe um par novo as usadas já estão destruídas”, contou Emanuel (nome fictício). 

Para piorar a situação, os garis são obrigados a subir na parte de trás dos caminhões e ficam dependurados em um cano sobre o elevador que conduz o lixo à caçamba. “Dois colegas meus já caíram. Machucaram. Só machucaram, ainda bem”, declarou Emanuel.