Saúde na UTI

Falta de médicos, de medicamentos e de estrutura, colocam o Hospital Regional de Luziânia na UTI. Pacientes se desesperam e parte dos servidores perdem a motivação em continuar trabalhando para salvar vidas

O desespero de Sandra Aparecida da Silva Santos, uma costureira de 31 anos, pode ser notado nas lágrimas que insistem em cair dos seus olhos. E também não é para menos. Sua filha de três anos, Ana Aparecida arde em febre. Nervosa, com a criança no colo, ela desce de uma taxi na porta do Hospital Regional de Luziânia (HRL-foto) na certeza de que seria atendida. No mesmo instante, Adalberto Rodrigues Martins, 30 anos, lavrador, desce do veículo amparado pela mulher Maria Rodrigues. Ele torceu o tornozelo jogando futebol. E a fila anda. Em seguida aparece à funcionária pública Marilda da Abadia Santana, 41 anos. Ela acompanha o filho Rodrigo Martins Santana, de 15 anos, que cortou o dedo fazendo uma pipa. Sentada em um dos bancos, espera atendimento. O aposentado Jeremias Gomes, 74 anos, reclama de dor no peito.

Ana Aparecida, Adalberto, Jeremias e Marilda nem imaginavam que seus pesadelos só estavam iniciando. Para Ana a esperança de ver a filha atendida e distante da febre se encerrou quando a recepcionista avisou que naquele momento não havia pediatra na unidade. “Estou decepcionada. Não sei o que fazer agora. Não tenho dinheiro para procurar um hospital particular”, disse a mãe, enquanto segurava a filha sonolenta. 

Com Adalberto, o homem que torceu o tornozelo, não foi diferente. “A funcionária me disse que o meu caso requer um ortopedista. O hospital hoje está sem médico dessa especialidade. É a segunda vez que venho aqui e não consigo ser atendido”, reclamou.
O dedo do filho de Marilda sangra. Ele sente dor e chora. Ela tenta estancar o sangue com um pedaço de pano, mas seu esforço é em vão. O garoto necessita com urgência de uma sutura, mas não foi no HRL que conseguiu ser atendido. Faltava material para o procedimento. Revoltada, Marilda foi parar com o filho no Hospital Regional de Santa Maria (DF).

Contudo, a sorte não foi tão cruel com Jeremias, o aposentado que sentia dor no peito. Depois de ficar duas horas deitado em um banco do lado de fora da unidade, um servidor da prefeitura que o conhecia se compadeceu e conseguiu que um clínico geral o atendesse. “O médico pediu alguns exames e me encaminhou para um cardiologista. Me deram um remédio para aliviar a dor, volto para casa com a incerteza de sempre”, disse.

Quando descobriram que fazíamos uma reportagem, fomos cercados por mais de 20 pessoas, cada uma tinha uma história para contar sobre a saúde de Luziânia. Todas tristes. “Tive que vir ao hospital na semana passada com cólica e fui maltratada pelo médico. Ele disse que para este tipo de dor eu poderia muito bem tomar remédio caseiro”, disse Rosangela Silva, 29 anos, dona de casa, moradora do Parque Estrela Dalva III.
Quase atropelando o entrevistador, surgiu a balconista Maria Gorete Vilas Boas, 25 anos. Ela afirmou que falta tudo no hospital. “Falta remédio, comida e até esparadrapo”.

PACIÊNCIA - A rotina no Hospital Regional de Luziânia é mesmo dolorida. Faltam médicos e medicamentos. Sobra pacientes. Quem procura a unidade tem que ser literalmente paciente, pois, se vê obrigado a enfrentar uma fila que dificilmente anda. Não é diferente nos postos de saúde e muito menos no Hospital Regional do Jardim do Ingá. “A saúde em Luziânia está um caos. Chegou de vez ao fim”. A reclamação é do motorista José Feliciano, 38 anos, morador do Ingá.

Para se ter uma ideia do desmando que beira as unidades do Jardim do Ingá, em junho, por ocasião das manifestações, numa quarta-feira, havia mais de 50 pessoas na fila para serem atendidas e três médicos escalados, mas apenas um atendia. Um faltou ao plantão e o terceiro dormia.